quinta-feira, 16 de julho de 2009

Carpe Diem



"Daqui a uns anos vais estar mais arrependido pelas coisas
que não fizeste do que por aquelas que fizeste. Então solta as amarras.
Afasta-te do porto seguro. Agarra o vento nas tuas velas.
Explora. Sonha. Descobre."


Mark Twain

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Frases Soltas


Sou uma música sem letra
Um espelho sem reflexo
O mar sem ondas
Uma frase sem sentido

Resta-me a melodia
O brilho
O sal
As palavras

Procuro a ode
A reflexão
A brisa
A expressão

Quando encontrar a canção
A imagem perfeita reflectida
A onda encrispada
A frase poética

Talvez me falte a voz
O polimento
A maré
A fala.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Alegoria do Rio


Havia uma pedra, perdida na margem do rio que fluía à sua beira, sonhava atravessar a corrente do rio para a outra margem, lançada por alguém, saltitando em contacto com a límpida superfície do curso de água.
Seria por quem passasse por ela não destrinçar características que lhe permitissem alcançar a almejada margem, seria a sua espessura, seria demasiado tosca, demasiado pesada para alguém a atirar a tamanha distância, o rio fluía e a pedra continuava no mesmo local na margem, fluíam também as pessoas que teimavam em não a atirar.
Até que um dia, uma criança aparece, pega na pedra e sente-a entre os seus pequeninos dedos, como que entendendo verdadeiramente o desejo oculto na pedra.
Pega-lhe, posiciona-a entre o seu polegar e o indicador, a pedra sente-se feliz, vai finalmente tocar a água, saltitar para a outra margem. A dinâmica do movimento fá-la soltar-se dos dedos da criança, salta sucessivamente ao tocar na superfície da água, e a cada salto a felicidade da pedra aumenta, a margem aproxima-se, mas os saltos a início vigorosos e de grande comprimento, sucumbem ao atrito da corrente, diminui a distância de cada salto, até que a pedra apenas desliza, falta ainda caminho até à outra margem, mas a pedra começa a afundar-se, a pedra vê-se coberta de água arrastada na corrente, em semicírculos em direcção ao leito do rio.
Bate no fundo, a luz e o calor da superfície ficram para trás e a pequena pedra apenas sente a corrente do rio passar por ela. Essa mesma corrente fará a pedra alcançar o seu objectivo, esculpindo a sua forma, tornando-a mais hidrodinâmica e ágil, para que assim que atinja novamente a margem, ao sabor de alguma enxurrada, a criança agora já adulta lhe pegue uma outra vez e a atire para o seu propósito, a outra margem.
Até lá a corrente do rio lava-lhe a superfície e a alma.

Nota: Alegoria - Modo indirecto de representar uma coisa ou uma ideia sob a aparência de outra.
"O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
Alberto Caeiro

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Estado de Espírito / Tempo


"O tempo passa. Mesmo quando tal parece ser impossível. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas lá passar, passa. Até para mim."

Stephenie Meyer, Lua Nova

terça-feira, 5 de maio de 2009

Imagens

Dizem que uma imagem vale mil palavras, então deixo-vos as imagens guardo as palavras para mim.








Fotos: Mónica Rogério

segunda-feira, 9 de março de 2009

Refúgio




Porque sento-me aqui nesta rocha com a água do imenso Oceano a beijar-me afavelmente os pés, sinto-a como a tábua da salvação à qual me agarro antes de me afundar, imerso na quietude do momento.
Fito com olhar langue o horizonte e não diferencio a ténue linha que separa a esfera celeste da sua tentativa de imitação terrestre, o Mar.
A mecanicidade com que as ondas vão e vêm acalmando-me o espírito e levando com elas os meus problemas, quando se afastam, repondo-os cada vez que voltam a tocar-me, mas por breves instantes tive paz, por uma fracção de segundo retiraram-me um peso de cima dos ombros, como se Atlas pudesse por momentos abandonar o a sua hercúlea tarefa de sustentar o Mundo nos seus ombros.
Pena ser um momento tão fugaz, pena assim que abandonar este local caia sobre mim a hecatombe de problemas que me assolam o espírito.
Não descuro de qualquer das formas a importância que teve este breve lapso temporal, deu-me força e alento.
Levanto-me, o Sol cai já no horizonte, põe-se para mim, abandona-me, mas agora percebo, sei que ele vai voltar amanhã e não posso ser egoísta ao ponto de o querer a brilhar intermitentemente para mim.
Desaparece do meu campo de visão, mas sei que algures no Mundo acaba de nascer para outra pessoa.
E dou por mim a alimentar o Oceano, com as salgadas lágrimas que escorregam face abaixo, tumultuosas como as ondas que embatem nos rochedos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Espelho


Aí está à mnha frente a réplica plana e perfeita daquilo que sou.
Não passa de uma mera ilusão, pois não é algo real, limita-se a mimicar os meus gestos e atitudes, de forma enervante, completamente desprovida de vontade própria.
Apenas serve para enganar as mentes menos atentas.
Fico no entanto aqui, em frente a esse clonador barato, admirando cada ponto que ele reflecte, tentando descortinar algum indício de mudança, alguma réstia de alento e esperança, busco a solução num vidro polido...

"Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente

A gente muda o mundo na mudança da mente

E quando a mente muda a gente anda pra frente

E quando a gente manda ninguém manda na gente



Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura

Na mudança de postura a gente fica mais seguro

Na mudança do presente a gente molda o futuro"

Gabriel, O Pensador - Até Quando

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Partida


Avanço, embrenho-me sem olhar para trás, pesa-me a saudade, mas não posso voltar para trás agora. Ainda que a dor lancinante me se faça repercutir no meu peito estende-se à medida que me afasto já com o regresso no pensamento, rumo ao abissal desconhecido por livre e espontânea vontade, buscando no incógnito breu propósito para a minha demanda da sagacidade, que me impele para longe daqueles que gosto, para longe do conforto dos amigos, mas ao mesmo tempo conhecendo novos rostos, novas histórias de vida, novas lutas germinam no meu espírito e a partida não terá sido em vão.
Passam os tempos da privação da partida, anima-se o espírito acalentado com a ideia do regresso, ultrapassei o meu cabo das Tormentas e assim como os intrépidos descobridores Portugueses, também a minha odisseia foi proveitosa.
Regresso sacio a saudade, esse sentimento que me corroeu durante a ausência do conforto daqueles que deixei para trás, sentindo agora saudade daqueles que conheci ao longo da viagem, percebo agora que a vida é feita de partidas e despedidas, deixamos sempre um pouco de nós por onde passamos e levamos sempre algo em troca.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Decisão


E se ficássemos apenas por aqui, obliviando tudo o resto que nos envolve, esquecendo o que nos trouxe aqui e aquilo que nos espera ao raiar do dia...
Se apenas desfrutássemos do momento, sem nada que interferisse com este sentimento recíproco de "não há nenhum outro lugar no Mundo onde eu quisesse estar", se apenas ansiássemos que o tempo parasse e retivesse para sempre este momento que ambos definimos como a "simetria perfeita", se como alquimistas sonhadores tentássemos inverter a entropia e o caos que se gera no universo tornando-os simplesmente não aplicáveis a nós...
E quem me dera não adormecer, ainda que enrolado nos teus braços, mas sim permanecer fitando assombrado a tua perfeição, mas isso é algo que não posso almejar, sucumbo ao venenoso descanso a que a minha natureza humana obriga, se inconscientemente pudesse desejar algo, para face à impotência de permanecer acordado, isso seria sonhar contigo, pois mesmo assim não o sentindo anseio por ti...
E quando acordar, observar-te, enquanto acordas e partilhar contigo o primeiro raio de sol, de mais um dia...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Abandonado


É triste mas é a verdade...
Estou só numa cidade com um milhão de pessoas...
Para perceberem a magnitude da minha solidão, reparem que até a minha sombra me abandonou...
Se na rua se cuzarem com alguém incapaz de projectar a opacidade do seu corpo quando a luz incide nele, encontraram-me.
Agora sem a minha sombra não importa se vivo na luz ou na escuridão, em ambos os ambientes serei incapaz de espelhar a minha silhueta, apenas sei que não importa onde esteja vou estar completamente despojado de uma presença que me impeça de afogar na solidão...
Para onde vou? Já sei.
Encaminho-me para um lugar onde ainda posso deixar marcas e que ao mesmo tempo me acalma o espírito. Chego à praia, coloco os pés na areia, qual carimbo numa folha de papel, lá está a minha planta do pé marcada na areia suavizada pelo vaivém das ondas do mar, continuo a caminhar pela praia, deixando o rasto da minha passagem, perseguido pela solidão.
Observo o horizonte conserva-se para mim como a fronteira da minha natureza humana, observo-o acalentando no espírito alcançá-lo, raiam na água os últimos suspros do sol moribundo, num crepúsculo que antecipa a imensa escuridão da noite.
Olho para trás, já não há rasto das minhas pegadas, absorvidas pelo mar, atravessei a praia sem conservar a assinatura da minha presença neste local, apenas aquele espaço de tempo em que as minhas pegadas foram impressas, fugaz rubrica do meu ser, espelho da forma como passo pela vida.