segunda-feira, 9 de março de 2009

Refúgio




Porque sento-me aqui nesta rocha com a água do imenso Oceano a beijar-me afavelmente os pés, sinto-a como a tábua da salvação à qual me agarro antes de me afundar, imerso na quietude do momento.
Fito com olhar langue o horizonte e não diferencio a ténue linha que separa a esfera celeste da sua tentativa de imitação terrestre, o Mar.
A mecanicidade com que as ondas vão e vêm acalmando-me o espírito e levando com elas os meus problemas, quando se afastam, repondo-os cada vez que voltam a tocar-me, mas por breves instantes tive paz, por uma fracção de segundo retiraram-me um peso de cima dos ombros, como se Atlas pudesse por momentos abandonar o a sua hercúlea tarefa de sustentar o Mundo nos seus ombros.
Pena ser um momento tão fugaz, pena assim que abandonar este local caia sobre mim a hecatombe de problemas que me assolam o espírito.
Não descuro de qualquer das formas a importância que teve este breve lapso temporal, deu-me força e alento.
Levanto-me, o Sol cai já no horizonte, põe-se para mim, abandona-me, mas agora percebo, sei que ele vai voltar amanhã e não posso ser egoísta ao ponto de o querer a brilhar intermitentemente para mim.
Desaparece do meu campo de visão, mas sei que algures no Mundo acaba de nascer para outra pessoa.
E dou por mim a alimentar o Oceano, com as salgadas lágrimas que escorregam face abaixo, tumultuosas como as ondas que embatem nos rochedos.