É triste mas é a verdade...
Estou só numa cidade com um milhão de pessoas...
Para perceberem a magnitude da minha solidão, reparem que até a minha sombra me abandonou...
Se na rua se cuzarem com alguém incapaz de projectar a opacidade do seu corpo quando a luz incide nele, encontraram-me.
Agora sem a minha sombra não importa se vivo na luz ou na escuridão, em ambos os ambientes serei incapaz de espelhar a minha silhueta, apenas sei que não importa onde esteja vou estar completamente despojado de uma presença que me impeça de afogar na solidão...
Para onde vou? Já sei.
Encaminho-me para um lugar onde ainda posso deixar marcas e que ao mesmo tempo me acalma o espírito. Chego à praia, coloco os pés na areia, qual carimbo numa folha de papel, lá está a minha planta do pé marcada na areia suavizada pelo vaivém das ondas do mar, continuo a caminhar pela praia, deixando o rasto da minha passagem, perseguido pela solidão.
Observo o horizonte conserva-se para mim como a fronteira da minha natureza humana, observo-o acalentando no espírito alcançá-lo, raiam na água os últimos suspros do sol moribundo, num crepúsculo que antecipa a imensa escuridão da noite.
Olho para trás, já não há rasto das minhas pegadas, absorvidas pelo mar, atravessei a praia sem conservar a assinatura da minha presença neste local, apenas aquele espaço de tempo em que as minhas pegadas foram impressas, fugaz rubrica do meu ser, espelho da forma como passo pela vida.