Degusto na minha inocência um chá de cereja japonesa, provavelmente não é mais do que uma amálgama de aromatizantes diluídos num ordinário chá de virar da esquina. Não custa sonhar, deleito-me com ele mesmo assim, viajo sensorialmente ao País do Sol Nascente.
Há quem veja o futuro nas folhas de chá, olho uma e outra vez o meu chá e nem as folhas vejo, quanto mais o futuro. Ainda penso em abrir a bola que continha as folhas que davam sabor à infusão, mas abandono esse pensamento quase de imediato, além da minha óbvia incapacidade para descortinar o futuro, não sinto a mínima curiosidade em sabê-lo. Prefiro viver erraticamente, sem planear, desfrutar do aqui e agora, não viver nas ânsias do amanhã.
Nas palavras de Pessoa, “Quanto é melhor, quando há bruma, / Esperar por Dom Sebastião, / Quer venha ou não!”.
Os Gregos acreditavam que o nosso Destino era urdido na Roda da Fortuna pelas três Moiras, Cloto, Láquesis e Átropos, gosto desta visão, as Moiras a tecer o meu Destino. Provavelmente neste momento, furiosas com a minha deambulação errática, impossibilitando qualquer previsão, tecendo durante o dia e desfazendo durante a noite, tal qual Penélope na espera por Ulisses.
Espero um dia que o meu fio enlace a um outro de alguém que cruze a minha Vida, para que quando as Moiras se preparem para o cortar encontrem ramificações partindo desses fios emaranhados, juntos nos encontros e desencontros da Vida.
Para já peço apenas que a erosão dos anos não me desvaneça o brilho no olhar que me permite saborear um chá, viajar até ao outro extremo do Mundo e escrever sobre sandices sem sentido.
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