segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Decisão


E se ficássemos apenas por aqui, obliviando tudo o resto que nos envolve, esquecendo o que nos trouxe aqui e aquilo que nos espera ao raiar do dia...
Se apenas desfrutássemos do momento, sem nada que interferisse com este sentimento recíproco de "não há nenhum outro lugar no Mundo onde eu quisesse estar", se apenas ansiássemos que o tempo parasse e retivesse para sempre este momento que ambos definimos como a "simetria perfeita", se como alquimistas sonhadores tentássemos inverter a entropia e o caos que se gera no universo tornando-os simplesmente não aplicáveis a nós...
E quem me dera não adormecer, ainda que enrolado nos teus braços, mas sim permanecer fitando assombrado a tua perfeição, mas isso é algo que não posso almejar, sucumbo ao venenoso descanso a que a minha natureza humana obriga, se inconscientemente pudesse desejar algo, para face à impotência de permanecer acordado, isso seria sonhar contigo, pois mesmo assim não o sentindo anseio por ti...
E quando acordar, observar-te, enquanto acordas e partilhar contigo o primeiro raio de sol, de mais um dia...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Abandonado


É triste mas é a verdade...
Estou só numa cidade com um milhão de pessoas...
Para perceberem a magnitude da minha solidão, reparem que até a minha sombra me abandonou...
Se na rua se cuzarem com alguém incapaz de projectar a opacidade do seu corpo quando a luz incide nele, encontraram-me.
Agora sem a minha sombra não importa se vivo na luz ou na escuridão, em ambos os ambientes serei incapaz de espelhar a minha silhueta, apenas sei que não importa onde esteja vou estar completamente despojado de uma presença que me impeça de afogar na solidão...
Para onde vou? Já sei.
Encaminho-me para um lugar onde ainda posso deixar marcas e que ao mesmo tempo me acalma o espírito. Chego à praia, coloco os pés na areia, qual carimbo numa folha de papel, lá está a minha planta do pé marcada na areia suavizada pelo vaivém das ondas do mar, continuo a caminhar pela praia, deixando o rasto da minha passagem, perseguido pela solidão.
Observo o horizonte conserva-se para mim como a fronteira da minha natureza humana, observo-o acalentando no espírito alcançá-lo, raiam na água os últimos suspros do sol moribundo, num crepúsculo que antecipa a imensa escuridão da noite.
Olho para trás, já não há rasto das minhas pegadas, absorvidas pelo mar, atravessei a praia sem conservar a assinatura da minha presença neste local, apenas aquele espaço de tempo em que as minhas pegadas foram impressas, fugaz rubrica do meu ser, espelho da forma como passo pela vida.