Havia uma pedra, perdida na margem do rio que fluía à sua beira, sonhava atravessar a corrente do rio para a outra margem, lançada por alguém, saltitando em contacto com a límpida superfície do curso de água.
Seria por quem passasse por ela não destrinçar características que lhe permitissem alcançar a almejada margem, seria a sua espessura, seria demasiado tosca, demasiado pesada para alguém a atirar a tamanha distância, o rio fluía e a pedra continuava no mesmo local na margem, fluíam também as pessoas que teimavam em não a atirar.
Até que um dia, uma criança aparece, pega na pedra e sente-a entre os seus pequeninos dedos, como que entendendo verdadeiramente o desejo oculto na pedra.
Pega-lhe, posiciona-a entre o seu polegar e o indicador, a pedra sente-se feliz, vai finalmente tocar a água, saltitar para a outra margem. A dinâmica do movimento fá-la soltar-se dos dedos da criança, salta sucessivamente ao tocar na superfície da água, e a cada salto a felicidade da pedra aumenta, a margem aproxima-se, mas os saltos a início vigorosos e de grande comprimento, sucumbem ao atrito da corrente, diminui a distância de cada salto, até que a pedra apenas desliza, falta ainda caminho até à outra margem, mas a pedra começa a afundar-se, a pedra vê-se coberta de água arrastada na corrente, em semicírculos em direcção ao leito do rio.
Bate no fundo, a luz e o calor da superfície ficram para trás e a pequena pedra apenas sente a corrente do rio passar por ela. Essa mesma corrente fará a pedra alcançar o seu objectivo, esculpindo a sua forma, tornando-a mais hidrodinâmica e ágil, para que assim que atinja novamente a margem, ao sabor de alguma enxurrada, a criança agora já adulta lhe pegue uma outra vez e a atire para o seu propósito, a outra margem.
Até lá a corrente do rio lava-lhe a superfície e a alma.
Nota: Alegoria - Modo indirecto de representar uma coisa ou uma ideia sob a aparência de outra.
Seria por quem passasse por ela não destrinçar características que lhe permitissem alcançar a almejada margem, seria a sua espessura, seria demasiado tosca, demasiado pesada para alguém a atirar a tamanha distância, o rio fluía e a pedra continuava no mesmo local na margem, fluíam também as pessoas que teimavam em não a atirar.
Até que um dia, uma criança aparece, pega na pedra e sente-a entre os seus pequeninos dedos, como que entendendo verdadeiramente o desejo oculto na pedra.
Pega-lhe, posiciona-a entre o seu polegar e o indicador, a pedra sente-se feliz, vai finalmente tocar a água, saltitar para a outra margem. A dinâmica do movimento fá-la soltar-se dos dedos da criança, salta sucessivamente ao tocar na superfície da água, e a cada salto a felicidade da pedra aumenta, a margem aproxima-se, mas os saltos a início vigorosos e de grande comprimento, sucumbem ao atrito da corrente, diminui a distância de cada salto, até que a pedra apenas desliza, falta ainda caminho até à outra margem, mas a pedra começa a afundar-se, a pedra vê-se coberta de água arrastada na corrente, em semicírculos em direcção ao leito do rio.
Bate no fundo, a luz e o calor da superfície ficram para trás e a pequena pedra apenas sente a corrente do rio passar por ela. Essa mesma corrente fará a pedra alcançar o seu objectivo, esculpindo a sua forma, tornando-a mais hidrodinâmica e ágil, para que assim que atinja novamente a margem, ao sabor de alguma enxurrada, a criança agora já adulta lhe pegue uma outra vez e a atire para o seu propósito, a outra margem.
Até lá a corrente do rio lava-lhe a superfície e a alma.
Nota:
"O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
Alberto Caeiro